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sábado, 14 de novembro de 2009



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Entonce foi anssim que tudo começô? Uma gota de mer e o amor se fez. A vida ficô linda de uma hora pra otra. E o jardim tão fremoso que dava gosto. Dipois, ocê cansô de vê tudo certim, tudo tão alinhado que resorveu aprontá uma arte. Daquelas de criança matreira que acha graça é na desgraça dos otros. Foi aí que trocou o mer pelo sar. As coisas desandaram e o mundo virô de ponta cabeça. O amor murchou que nem pranta que fica direto no sor. Sem trato. E veio a fenecê. Caiu-se mortinho da silva. Sem mais nem porque. E, daí de cima, ocê aplaudia, anjo marvado! E eu achando que eu devia de merecê tudo isso, por ter sido sempre uma pessoa das avessas. Deve de sê castigo dos deuses - a mãe dizia - ocê é muito ruim, menina. E por um bocado de tempo, acreditei nisso mais que tudo. Acabei ficando jururu. Quase que doente da alma. Mas acontece que otro anjo apareceu e resorveu devorvê o mer que ocê me tirô. O sor vortô a brilhar onde antes era só chuva. E eu até que prefiro anssim. Porque dipois da chuva o sor é mais bonito. E no meu jardim tem bem mais frô que antes. E que num morrem nunca, nunquinha.


terça-feira, 27 de outubro de 2009


Então abra os olhos e prometa nunca mais fechá-los de novo pra mim, pois já não se torna mais fácil de te entender quando você faz questão de não falar o que se passa nesse teu mundo, aonde você me aprisionou e escondeu de mim as chaves para que eu não pudesse mais sair”.

sábado, 17 de outubro de 2009

Cartas que não foram mas que esperam respostas

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Ei, vamos fazer um trato?
Você vem de mansinho e cura meu machucado.
Combinado?
Aí eu vou chegando e cuido de você junto.
Você deve ter suas histórias, lembranças
Todo mundo tem coisas que nunca somem. Fantasmas.
Mas a gente começa de novo. Tá disposto?
Vamos com as conversas mansas
Carinhos bobos
Segredos.
E assim a gente vai chegando mais perto um do outro
E fazendo o nosso começo.
Por mais que a gente tenha receio
A vontade de acertar vem antes,
Chega primeiro.
É só deixar ela entrar.
Vem. Vai deixar?
Eu estou aqui
Cansada, mas ansiosa por tentar.
Felicidade a gente até faz sozinho
Mas com você vai ser mais gostoso, benzinho.
Te espero.

“... Eu cuidarei do seu jantar, do céu e do mar
E de você e de mim.”

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quarta-feira, 7 de outubro de 2009


O que me compõe é tudo o que minha alma já viveu.
É tudo o que meu corpo já sentiu.
É o que eu me lembro, sonho, sinto:
Amores, dores... Medos, vícios.
É o que eu crio para mim
E o que eu tiro... Desmorono...
E o que fica é só o verdadeiro:
Componho-me.
O que me habita é tudo o que eu consinto.
Tudo que é intrínseco, eu convivo.
Todos os “eus” me habitam
E todos eles gritam...
Fugas, fogueiras, fuzuês...
Habitam-me todos os sexos...
Crenças, cores, quereres...
E eu não fujo: Habito-me.
O que eu conheço é o que eu busco
E eu busco só o total...
O que toca fundo, o que tem sentido.
Meio termo, meio passo, meio vivo;
O meio me faz mal.
Quem não se conhece aceita qualquer coisa...
Não conheço o caminho... Mas hei de seguir...
Não sei do mundo, mas sei de mim: Conheço-me.
O que eu permito é tudo que me eleva
Se não engrandece, não me acrescenta: desce!
A luz e a sombra me somam, me mostram, me são.
Sou o doce e o veneno, não há o que escolher...
Verso e inverso, yin-yang, eu me completo.
Não me tiro: Permito-me.
Tudo que minha alma já viveu me compõe
E o que me compõe habita em mim
E o que habita em mim, eu conheço
E o que eu conheço eu permito
E o que eu permito, é.
Eu Sou.
Permito-me!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009


“Dizem que a gente tem o que precisa. Não o que a gente quer. Tudo bem. Eu não preciso de muito. Eu não quero muito. Eu quero mais. Mais paz. Mais saúde. Mais dinheiro. Mais poesia. Mais verdade. Mais harmonia. Mais noites bem dormidas. Mais noites em claro. Mais eu. Mais você. Mais sorrisos, beijos e aquela rima grudada na boca. Eu quero nós. Mais nós. Grudados. Enrolados. Amarrados. Jogados no tapete da sala. Nós que não atam nem desatam. Eu quero pouco e quero mais. Quero você. Quero eu. Quero domingos de manhã. Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro. Quero seu beijo. Quero seu cheiro. Quero aquele olhar que não cansa, o desejo que escorre pela boca e o minuto no segundo seguinte: nada é muito quando é demais.”
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Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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A certeza vela atrás de um muro
ou dorme num poço
onde nada se escuta ou avista.
Sempre que partes, morro um pouco
por não saber se retornas.

Minhas mãos doem de tanto abrir-se
para que vás tranquilo.
Só assim hás de querer estar comigo:
sem que eu insista.

(Fingir que te deixo livre
é um jeito egoísta
de amar.)


(Lya Luft, in: Para Não Dizer Adeus)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

...


A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção de acordar viva todo dia
Há dores que sinceramente eu não resolvo
sinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo e me torno moribundo de doer
daquele corte do haver sangramento e forte
que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
dentro das perdas de coisas antes possuídas
dentro das alegrias havidas
Há porradas que não tem saída
há um monte de "não era isso que eu queria"
Outro dia, acabei de morrer depois de uma crise sobre o existencialismo
3º mundo, ideologia e inflação...
E quando penso que não me vejo ressurgida no banheiro feito punheteiro de chuveiro
Sem cor, sem fala nem informática nem cabala
eu era uma espécie de Lázara
poeta ressucitada
passaporte sem mala
com destino de nada!
A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
ensaiar mil vezes a séria despedida
a morte real do gastamento do corpo
a coisa mal resolvida
daquela morte florida cheia de pêsames
nos ombros dos parentes chorosos
cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos
que já to ficando especialista em renascimento
Hoje, praticamente, eu morro quando quero: às vezes só porque não foi um bom desfecho ou porque eu não concordo
Ou uma bela puxada no tapete
ou porque eu mesma me enrolo
Não dá outra: tiro o chinelo... E dou uma morrida!
Não atendo telefone, campainha...
Fico aí camisolenta em estado de éter
nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!
Tô nocauteada, tô morrida!
Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa
não tem aquela ansiedade para entrar em cena
É uma espécie de venda
uma espécie de encomenda que a gente faz
pra ter depois ter um produto com maior resistência
onde a gente se recolhe (e quem não assume nega) e fica feito a justiça: cega
Depois acorda bela corta os cabelos
muda a maquiagem reinventa modelos reencontra os amigos que fazem a velha e merecida pergunta ao teu eu: "Onde cê tava? Tava sumida, morreu?"
E a gente com aquela cara de fantasma moderno, de expersona falida:
- Não, tava só deprimida.
(Elisa Lucinda, in: O Semelhante)

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

daquilo que a gente insiste em não enxergar...


... sabe... eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você,
ou apenas aquilo que eu queria ver em você...
eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia,
e, se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que, no fundo,
sempre no fundo,
talvez nem fossem suas, mas minhas...

.....

sábado, 22 de agosto de 2009


ilustração artes com trastes e traquinagens

Exceção



Amanhã, quando você acordar,
E lembrar de mim a cada hora
Vê se não chora, grande homem,
Por perder mais um dia sem me amar.
Seja dono dessa força toda
Que você diz que tem,
Não ligue para dizer “meu bem”
Ou “vamos nos casar”.
Eu penso no que você acredita,
Então, já que você é tão
Senhor de tudo,
Lembre-se que sou a exceção,
Que você já não me tem.


- Cáh Morandi –

sexta-feira, 21 de agosto de 2009



"Todo sopro que apaga uma chama, reacende o que for pra ficar..."

quinta-feira, 20 de agosto de 2009


deixe pra lá teu tédio,
teu medo
e teu jeito de não acreditar.
ainda somos

os que não se entregam,
ainda somos
os que determinam
que uma nova estrada
cura
a sensação de não se poder
mover a vida..
deixe pra lá

os vãos apegos.
pegue uma estrada
e sinta o vento.
vamos ao norte,
sempre
à frente,
onde renasce
cada esperança
que merecemos ter.



Enquanto houver estrada para andar

a gente vai continuar.
enquanto houver estrada para andar,
enquanto houver ventos e mar
a gente não vai parar.
enquanto houver ventos e mar...

(aglasweet)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

the end...

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Tranquei as portas e serrei as cortinas vermelhas!
Que venha a enfermidade do sonho!
Prefiro o sofrimento legítimo ao prazer forçado...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

me leve...


não me leve embora
me leve a sério
me leve agora
para dentro
para cama
para uma noite
inteira
para uma vida
passageira
mas me leve
para algum lugar
para algum país
me faz feliz
me faz, me leve...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009



●๋• Um lugar deve existir,
uma espécie de bazar, onde os sonhos extraviados vão parar,
entre escadas que fogem dos pés e relógios que rodam pra trás...
Se eu pudesse encontrar, não voltava jamais... ●๋•



terça-feira, 4 de agosto de 2009

daquilo que me dói...


Aqui! Ah!
Daqui vejo que muitos passam fome, outros frio. Mais ali ó... um viciado, uma mulher carente, um bêbado, a linha tênue da minha consciência, e eu com a mania absurda de achar que, a dor circunda meu umbigo. Reparo, a hipocrisia é confortável. Ah! Ela vive sob teto protegido, sob palavras utópicas, sob aquele olhar "blazê" dos intelectuais. Vive mesquinha coberta pelas peles dos que acham que "fazem a sua parte".
Não! Isso não é normal!!!
E eu nunca vou achar que seja!!!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009


para as coisas que existem
sem remédio, sem solução
que te tragam tédio,desespero, frustação
há outras mil coisas
que são bonitas
que são doces
que são felizes
e se você não achar
nada de bom ou de maior
você cria alguma coisa
qualquer coisa boa que não existe
e se você botar nisso
essa coisa vai começar a existir
mesmo que ninguém veja
mesmo que só você acredite.



(Cáh Morandi)


O que será ser só
Quando outro dia amanhecer?
Será recomeçar,
Será ser livre sem querer?
O que será ser moça
E ter vergonha de viver?
Ter corpo pra dançar
E não ter onde me esconder
Tentar cobrir meus olhos
Pra minha alma ninguém ver
Eu toda minha vida
Soube só lhe pertencer
O que será ser sua, sem você?
Como será ser nua em noite de luar?
Ser aluada louca até você voltar
Pra quê?
O que será ser só
Quando outro dia amanhecer?
Será recomeçar,
Será ser livre sem querer?
O que será ser moça
E ter vergonha de viver?
Quem vai secar meu pranto?
Eu gosto tanto de você.


(Chico Buarque - Para o balé Dança da Meia Lua)

quinta-feira, 30 de julho de 2009


manter distância é alimentar a chama
é apagar fogo com gasolina
é confiar à ave de rapina
a segurança do bem que mais ama
manter distância é acreditar
que é o espaço, e não o coração
que tranca a gente num lugar sem ar
e deixa a gente sem nada nas mãos
manter distância é pensar que fome
é uma coisa [e não uma sensação]que vai embora, simplesmente some
é acreditar que falta de atenção
faz o amor se esquecer do nome
de quem nos faz esquecer a razão.........



sexta-feira, 24 de julho de 2009

o amor é bicho instruído


Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.
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(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 21 de julho de 2009

será real ou fantasia?


se eu pudesse sonhar o que eu quisesse
sonho desses que não diferencia o que sente real ou fantasia
tão carnal que a pele reconhece
tão presente que a pele arrepia
tão profundo que alma até esquece
que o gosto que sente é só quimera
eu teria, então, o gosto dela
a saliva e o fim da calmaria
sua boca que a minha há tanto espera
o seu beijo - trovão, rima e canela
meus demônios pedindo alforria

dos meus tempos de menina

para minha prima...
Era uma vez, uma lugar bem um pouco acima das nuvens e um pouco abaixo do nada... Davámos cambalhotas, saltos triplos, mortais carpados, grupados e esticados :). Plantávamos bananeiras no ar! E os pés ainda davam bananas de verdade! :P Com miquinhos morando entre os dedos dos nossos pés! Faziam cosquinhas e por isso todos viviam rindo.
O sorriso sempre determinante. Nem existia mal humor. Era impossível. Parecia até sonho. Mas 'néra' não. Era alegria mesmo. Alegria que não faltava em mim, em nós.

E de pensar que a gente se via todo dia.... :(

no dia em que se celebra a AMIZADE..


O que marca e o que não marca, irá marcar (:
Como algo sem importancia ...
um banho de chuva ou qualquer outra fuga, irá dar um ar para gargalhar!
um romance errado ou um machista retardado, terá de quem zombar!
um plano realizado, como um beijo roubado, pra sempre irá ficar!
um conselho preocupado com alguém ao seu lado, faz mudar!
uma certeza exata da garota apaixonada que no colo da amiga foi chorar!
a descoberta dessa vida incerta que se faz concreta se ao teu lado posso caminhar!


-É, eu te amo :*


(o que seria de mim sem elas?)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

quanto mais desejo....

Se meus lábios esbarrassem, qualquer dia
em teus lábios de sorrisos e vontades,
nossas bocas comporiam poesia
no silêncio de uma doce impunidade.
Se teus lábios, por uma razão qualquer
proferissem o meu nome, suavemente
nada do que é estruturado fortemente
permaneceria firme, inteiro, em pé.
Se minha boca conhecesse o caminho
e minha pele conhecesse tuas mãos,
o meu peito seria um redemoinho.
Se meus olhos vislumbrassem o fino linho
de tua pele nua, eu perderia o chão
como quem encontrou rosas sem espinhos.




quinta-feira, 16 de julho de 2009

"Vamos combinar, então, que da próxima vez eu abandono esse papel de santa.
Nada de coração, sentimento, paixão.
Nada dessas palavras que a gente encontra em versos e poesias de cartão mal escrito.
Fica combinado que, da próxima vez, você vai se divertir em outro lugar.
Vai torcer contra mim sentado em outra arquibancada.
Rir de outra piada.
Fica assim, então, combinado.
Eu não choro mais de madrugada, não me chamo mais de tonta em frente ao espelho, não borro mais com a mão o meu batom vermelho.
Não puxo os meus cabelos.
Não brigo mais.
Nada de gritos e palavrões.
Nada de portas batidas rachando as paredes aos poucos.
Nada de perseguições.
Fica combinado que eu não acredito mais em bonecos de noivos em cima de bolo cheio de creme.
Em fatia cortada de baixo pra cima.
Em goles de bebida em copos cruzados.
Combinado, então.

Eu não me derreto mais com flores no meio do dia.
Não acredito mais em frases quase dentro da orelha.
Em lambidas no pescoço.
Em telefonemas.
Não me admiro mais com laço grande em caixa de presente.
Fica combinado que não sou mais a boazinha, a paciente.
A partir de hoje, pedra no lugar do coração...."




"As coisas mais importantes são as mais difíceis de expressar. São coisas das quais você se envergonha, pois as palavras as diminuem - as palavras reduzem as coisas que pareciam ilimitaveis quando estavam dentro de você à mera dimensão normal quando são reveladas. Mas é mais que isso, não? As coisas mais importantes estão muito perto de onde seu segredo esta enterrado, como pontos de referência para um tesouro que seus inimigos adorariam roubar. E você pode fazer revelações que lhe são muito difíceis e as pessoas o olharem de maneira esquisita, sem entender nada do que você disse, nem por que eram tão importantes que você quase chorou enquanto estava falando. Isso é pior, eu acho. Quando o segredo fica trancado lá dentro não por falta de um narrador, mas de alguém que compreenda."

[S.K. conto 'O Corpo']



sexta-feira, 10 de julho de 2009


Vou escrever uma carta com a minha própria letra
papel branco, tinta preta, dizendo tudo que sinto
desse coração faminto, da saudade apertada,
das cores já desbotadas daquele vestido velho.
É que o tempo me aconselha a ser sincera com a vida.
A saber que as despedidas são uma forma de chegada,
só que ao avesso, onde cada um leva o outro bem juntinho.
Vou escrever do carinho e da paz que me faz gente.
Vou ser bem irreverente e explícita ao contar que viver é um ato intenso
como flertar com o vento e fazer amor com o ar...



segunda-feira, 6 de julho de 2009

depois das tempestades..

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Tomo as rédeas da tempestade com punhos firmes - garanto.
A transformo em chuva fina, em água calma e divina pras flores que hoje eu planto.
Isso aqui já foi ruína, nem faz tanto tempo,
isso já foi solo movediço, já foi chão de desperdício, mas agora é diferente..
Quero a coisa simplesmente, sem uma segunda intenção..
quero um aperto de mão, quero um abraço sincero.
Não é muito o que eu espero, nem acho que espero em vão.
Fazer poema é complicado, um poeta do passado disse que é ser fingidor.
E eu que finjo tão bem, só esperava que ninguém achasse que essa autora,
que arrisca esses rabiscos tão mal-feitos e sem cor,
fosse aquilo que não é, dissesse aquilo que não disse, colhesse o que nunca plantou.
E é por isso que eu, suave, ordeno que a tempestade que em tempos tão recentes
destruiu a paz urgente, agora seja só chuva, que me caia como luva.
Não planto semente de dores
mas a chuva há de fazer o que eu plantei, florescer: um campo de belas flores








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às vezes a diferença
entre anjos e demônios
é menor do que se pensa...
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domingo, 5 de julho de 2009


E se eu concordar contigo que é pedra meu coração, vai mudar seus velhos passos?

Seus hábitos tão antigos?

Tornaremos só amigos só por minha confissão?

Se eu gritar em plena praça que é concreto e argamassa o que bate aqui dentro, muda algum seu sentimento?

Se souber que é cimento minha alma sem ação, e não importa o que eu fiz ou o que eu faço..

Alivia seu cansaço se eu entrar em ebulição e meu vapor sair gritando em voz alta meu fracasso?

Redime dos estilhaços da frieza da razão, só por concordar contigo que é pedra meu coração?


[R]



menina dos olhos...

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"..Vou morrer nos seus olhos, menina
Não há tempo de me salvar
Vou correr pros seus olhos como luz
Na sua íris me afogar.
Minha vida passando na sua vista
Você nem pisca
Lacrimeja e se irrita. Cristalino, cristalino..
Pois agora é muito tarde
Já estou na sua retina
Se o pensamento não lembrar
Vou morrer nos seus olhos, menina.

Cristalino, cristalino.."

daquilo que [só] a gente sente..

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é incrível. é indescritível. é infindável.
é verdadeiro. é sincero. é harmonioso.
é paz. é vida. é luz.
é sem razões. é sem explicações. é energia.
é sereno. é confiável. é completo. é diferente.
é super. é hiper. é mega.

é paz. é vida. é luz.
é você. e isso basta...

[flower]
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"escrevo por não poder dormir tranquilamente. faço um texto ruim, submerso em sono, pouco alerta. preciso me esgotar para ir à cama sem lembrança. escrevo para limpar-me?"


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autoria


Você pode até bater esse pé no chão, como fazia quando era criança contrariada. Quando não ganhava seu doce, seu brinquedo, sua mesada. Como quando abria seu pacote de presente e encontrava o que não tinha pedido. Vestido no lugar da boneca. Sapatos em vez de discos. Você pode fazer manha, bico, beiço. Como quando o passeio era outro, a comida era outra, a música era outra e não a escolhida por você. Como quando a sobremesa colorida só vinha depois do prato todo verde. Chore. Esperneie. Berre. Você pode agarrar a barra da minha calça. Puxar minha camiseta. Você pode chorar rolando pelo tapete. Me xingar, ameaçar. Você pode reagir, me bater, tentar me matar. Pode quebrar as coisas da casa. Há dezenas de copos nos armários. pratos de porcelana. Xícaras de cerâmica. Espelhos. Você pode encher este chão de cacos. pode bater as portas na minha cara. Rachar as paredes. Você pode comprar uma arma. Afiar suas facas. Jogar um laço para me enforcar. Pode interromper meu caminho. Cruzar os braços. Emburrar. Você pode fazer qualquer coisa. Mas esta caneta eu não devolvo. A partir de hoje, Você não muda mais a minha vida. Quem escreve esta história aqui SOU EU.


[E.B.]

sábado, 4 de julho de 2009

"não entendo. isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. entender é sempre limitado. mas não entender pode não ter fronteiras. sinto que sou muito mais completa quando não entendo. não entender, do modo como falo, é um dom. não entender, mas não como um simples de espírito. o bom é ser inteligente e não entender. é uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. é um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

[C.L.]

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Gota


A vida no limite. Na borda da xícara. Pronta para transbordar a qualquer instante. Com qualquer mexida. A vida escorrida. Descida pelos pés da mesa. Esparramada. Sumida entre os tacos do chão da sala. Morro pelo excesso. Por você demais. Morro por não suportar mais nenhuma gota. O que já matou a minha sede, hoje, me transborda.

[E.B]

Eu sei que a gente se acostuma...



... sobre a condição [sub]humana...



"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra. A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos. A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta. A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma".

[M.C.]

ALOHA!

Um beijo a quem vier...
paz, luz.. sempre!